January 2009


My thoughts21 Jan 2009 03:18 pm

Descobri que sou um LP. Bom, com a idade que tenho, os conheci bem e sei como funcionam…

 

Os LPs têm lado A e lado B, assim como eu tenho dois lados. Um, responsável, trabalhador, comprometido, preocupado. O outro quer viajar, é aventureiro, impulsivo, criativo, exagerado. Mas os dois se completam para formar um álbum.

 

Um LP tem muitas faixas, algumas tristes, outras mais alegres, algumas inquietantes e surpreendentes. Às vezes repetimos a mesma faixa mais de 10 vezes e ainda assim não nos cansamos de escutá-la. Outras são somente para dançar e se divertir.

 

Uma música marcou uma época, outra jamais é tocada, caso em que é preciso ter o trabalho de se levantar e mudar a agulha de posição. Às vezes uma faixa apenas se torna um grande hit, parada de sucesso por semanas! Às vezes o LP como um todo é um grande sucesso, fica para história, será lembrado por anos e anos. Mas, se o trabalho não for bem feito, o LP será um fracasso de crítica, cairá no esquecimento e só será encontrado em velhos sebos a preço de balaio.

 

O LP exige cuidado, pois seu material é sensível a arranhões. Alguns deles jamais serão apagados e farão com que determinada música fique permanentemente prejudicada, relembrando o momento de descuido, raiva ou descontrole. O LP exige limpeza especial, carinho ao ser tocado; mãos gordurosas deixarão marcas. Mãos inábeis poderão deixá-lo cair.

 

É preciso guardar o LP com cuidado, em sua embalagem correta, preferencialmente a original. Sua capa conta boa parte de sua história. Quem já não comprou um LP apenas pela beleza da arte gráfica, pura estética e então se surpreendeu com o conteúdo?

 

O LP pode se quebrar. E não é fácil remendá-lo. O LP de sucesso fica na lembrança, pode ser relançado em CD; nova roupagem de uma velha criação.

 

Entretanto, um dia o LP vai desaparecer…

 

 

Trips and impressions21 Jan 2009 02:41 pm

Apesar de ter passado muitos anos em BH antes da minha primeira mudança, não dava muita atenção ao Parque Municipal. É preciso se despir de certos preconceitos para aproveitar esse espaço arborizado e público cravado no meio do Centro da cidade.

Há várias entradas, algumas pela principal avenida do centro, a Afonso Pena. Dentro do parque são muitas surpresas, a conservação, as plantas, os gatos, a diversidade humana. E justamente por isso é preciso deixar o preconceito do lado de fora dos portões.

Para alguns é lugar de lazer barato nos fins de semana, para outros, local de caminhadas. Há voluntários que alimentam os gatinhos abandonados e velhinhos se alongando nas pequenas áreas reservadas para tal. Para outros, ainda, é apenas local de passagem, pois o parque conecta a Av. Afonso Pena e a Alameda Ezequiel Dias, onde estão diversos hospitais públicos e privados e está próxima da Faculdade de Medicina da UFMG.

O interessante desse espaço público é sua versatilidade em agregar desocupados, trabalhadores, corredores e mesmo mendigos sem que nos sintamos ameaçados pela presença do outro. (Claro que o policiamento é ostensivo!)

Mas, para quem não se dispõe a encarar a realidade, melhor mesmo é fazer caminhada na Praça da Liberdade, em frente ao Palácio do Governo. Dar voltas e voltas em um mesmo quarteirão recheado por jardins e fontes organizadas para impressionar turistas e políticos do estado é uma opção válida. Talvez seja mesmo a melhor opção para aqueles que vivem a vida assim, dando voltas e voltas, sem nunca experimentar os contrastes que enriquecem a vida.

Poems18 Jan 2009 11:17 am

A partida é certa, mas o coração e a mente insistem em tremer diante do inevitável desconhecido. Claro, quem não sofreria pela incerteza e beleza do desconhecido? E se realmente as coisas aconteceram como planejamos? E se formos felizes de doer? Enfim, para mim a dúvida é constante, os pensamentos em efervecência insistem em ocupar a mente e sinto a necessidade de deixá-los se acalmar lentamente, com a feliz ajuda dos amigos queridos…

Entre ir ou ficar

Pode ser difícil optar

Mas talvez melhor seja ir

Indo, conhece-se o de lá

Indo, pode-se até voltar

Gilberto Melo

Trips and impressions10 Jan 2009 08:29 pm

 

Devo confessar que minhas visitas a Belo Horizonte devem-se, em primeiro lugar, ao fato de que algumas das pessoas mais queridas em minha vida vivem na cidade. Isto já é o suficiente para passar um tempo em BH.

No entanto, é sempre bom quando surgem aspectos novos e surpreendentes da cidade que me fazem refletir sobre a vida e outras coisas…

Uma dessas surpresas é o Inhotim – Museu de Arte Contemporânea, na cidade de Brumadinho, há cerca de 60 km de BH. É difícil descrever como foi boa a idéia, o planejamento, a execução e, mais ainda, a manutenção do projeto.

A primeira coisa que se nota ao chegar é o cuidado com o atendimento, a forma como somos saudados na entrada e como nos fazem chegar ao estacionamento e, por fim, à recepção. Nesse meio tempo, já começamos a nos maravilhar com os jardins. Para mim, na verdade, sem desmerecer em nenhum momento as obras de arte expostas nas galerias e ao ar livre, o que mais me encanta são os jardins. Alguns deles foram projetados por Burle Marx e como diz o folheto de apresentação, trata-se de uma das maiores coleções botânicas do mundo.

Bom, daí é só se entregar às trilhas que surgem ao caminhar. Há um mapa, mas podemos esquecê-lo tranquilamente…Ao seguir o caminho das pedras que entremeiam os jardins vamos nos deparar inevitavelmente com uma galeria ou outra. Os caminhos são, ainda, adornados com lagos, plantas exuberantes e obras de arte ao ar livre. Uma borboleta azul nos acompanha em determinado momento. Em outro, acompanhamos dois cisnes negros e seus filhotinhos em um de seus primeiros passeios pelo lago.

O calor intenso é aplacado com pausas em pequenos recantos sombreados por belas árvores e folhagens, além de irresistíveis espreguiçadeiras, notáveis bancos e mesas de madeira cujo design se mescla ao projeto paisagístico. São momentos de conversas soltas, troca de impressões, contemplação e frescor em meio ao despertar dos sentidos a que cada obra vista nos remete.

Enfim, são cores, sons, toques, além de sabores em um restaurante impecável. Reservamos um dia inteiro para este passeio e nos sentimos recompensados ao fim dele. Exercitamos nossa percepção, nosso olhar para o belo e harmonioso e, às vezes, inquietante. Permitimo-nos experimentar através da visão novas formas de representar o mundo apresentadas por diferentes artistas. Deixamos prá traz o julgamento das formas limitantes e simplesmente deixamos que o dia se tornasse especialmente memorável.

My thoughts08 Jan 2009 09:39 am

Um dia me faltou o chão…

Pensei que não conseguiria caminhar da sala ao banheiro,  ou do quarto à cozinha. Deixei-me escorregar do sofá e chorar no chão, com a cabeça protegida, como se pudesse esconder de mim mesma as lágrimas que não cessavam em cair.

Um dia o chão voltou a estar debaixo de meus pés…

Já não estranhava os espaços vazios, aproveitava-os. Fiz as malas e empacotei os desagrados. Organizei os arquivos da mente e do computador. Revisei as músicas, os textos, os livros. Chorei de novo, mas não escondi a cabeça. Acendi uma vela e apaguei as luzes. Apaguei a vela e observei as estrelas. Vi uma estrela cadente e fiz um pedido.

Chamei os amigos, recebi beijos, abraços e carinhos. Desfrutei novos sabores e aromas, descobri recantos do meu corpo e da minha alma ainda intocados. Ri e chorei de novo…

Caminho com a cabeça erguida e um sorriso nos lábios. Nos olhos um fundo de dor que marca quem sou. Mas seja durante os dias de sol ou de chuva, tenho sob meus pés a solidez do caminho que decidi trilhar.

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