E isso que eu não gosto de clichês, mas sempre caio neles e nos mesmos erros. Freud deve explicar minha negação…Enfim, a vida de estrangeira é sempre muito agitada. Em primeiro lugar está a sobrevivência, uma questão básica. Comer, vestir-se, ter um teto. São questões predominantes na vida de qualquer estrangeiro que está fazendo sua vida no exterior, especialmente nos primeiros anos, e sabe que não pode simplesmente pegar um avião e voltar para casa da mamãe.
Mas a gente também quer “diversão e arteâ€, como diziam os queridos Titãs. Não é possÃvel ficar só no cotidiano e na pressão: trabalho-casa, casa-trabalho. Porém, diversão tem seus riscos quando se trata de uma cultura diferente. E a Argentina pode te enganar, e muito! Aqui, não sei se é devido à conhecida paranóia de todos, com relação a tudo, é uma arte conseguir ter um momento de distração tranquilo, sem ficar pensando se se está quebrando alguma regra social. Faço minha “mea-culpa†no sentido de que penso demais, ok, “my mistakeâ€. Mas essa gente (que eu gosto e respeito muito) à s vezes parece que vai me enlouquecer.
Então resolvi fazer uma pesquisa entre minhas poucas amigas argentinas e amigos, também, para obter dados da fonte. O tema é encontros. Como se comporta o macho argentino e como se espera que a fêmea responda. De acordo com a opinião de todos, muito moderninhos, não existe regra. O rapaz convida a mocinha para sair e as coisas acontecem naturalmente. Ha! Naturalmente mas nem em sonho. Descobri que existe um código social bem definido no que tange conquistas, encontros e possÃveis relacionamentos.
Começa como se não fosse nada importante. O rapaz dá atenção para mocinha, mas sempre de maneira comedida, sem demonstrar grande interesse. Aos poucos, vão se falando. Podem ser colegas de faculdade, do trabalho, amigos de amigos, etc. E é assim: se ele tem interesse em conhecer melhor a mocinha, vai convidá-la para um programa light. Talvez um café no fim da tarde, nada muito comprometedor. Passam algumas horinhas conversando, falando de seus interesses, tentando impressionar um ao outro, enfim, momento de mostrar o melhor de cada um (chamo de a hora da publicidade). Se o rapaz tem interesse, gostou da publicidade (e a mocinha também), vai ligar depois, passados alguns dias. AÃ, já vem o convite para jantar, se há interesse genuÃno. Bom, esse momento para mim ainda é um mistério. Ainda não consigo entender se a maneira deles é mais simples e descomplicada ou simplesmente rigorosa demais para uma brasileira. O fato é que se a moça é convidada para jantar, primeiro: espera-se que o rapaz pague a conta e, segundo: que passem a noite juntos!
Não estou julgando a maneira como os argentinos armam o jogo da sedução, mas sinto que tudo é muito previsÃvel e sem espaço para criatividade, dúvidas, incertezas, desejo, enfim, todo espectro de emoções que faz parte da natureza humana. Talvez os brasileiros sejam realmente mais criativos e menos rÃgidos, talvez nossa cultura permita levar a pessoa por quem você se interessou para o aniversário de um amigo. Talvez permita que as pessoas se conheçam em ambientes diversos e nem por isso sejam classificadas de alguma forma. Por aqui conhecer alguém em um bar ou boate, significa que não é e nunca será uma relação séria. É possÃvel que nosso jeito de ser, de olhar, de paquerar, demonstre que estamos mais dispostos a errar! Que nem todos os rapazes são desprezÃveis porque não pagam o jantar para a mocinha e nem todas as mocinhas têm a obrigação de “pagar†de volta a gentileza, indo para cama com o mocinho…Claro que sempre existe a opção de dividir a conta, assim, pelo menos, a mocinha pode ter a opção de, no caminho para casa, mudar de opinião!
De qualquer forma, estou aprendendo a decodificar as manias argentinas. Confesso que me assusto e custo a internalizar esses códigos. Faço uma verdadeira campanha interna para não me conformar a esses padrões. Mas, e se para viver bem em terras estrangeiras a única maneira é dançar conforme a música? Ai, me dá medinho…quero ser quem eu sou, não somente perpetuar comportamentos porque é assim e ponto. Vou deixar aqui minha reflexão/desabafo. Como residente apaixonada, estou um pouco perturbada. Quem sabe eu esteja deixando que a venda da paixão aos poucos caia para de fato enxergar as coisas como elas são…