My thoughts12 Mar 2010 04:40 pm

É interessante ler a opinião de brasileiros sobre a Argentina. E também é impossível não cair nos clichés.

O primeiro deles é “só vivendo pra crer”. Digo isso do “alto” da minha experiência de 1 ano vivendo em Buenos Aires. De turistas brasileiros encantados com o câmbio a brasileiros que nunca tiveram o menor interesse em saber o que se passa por aqui, existe um grande abismo de informação. É uma pena!

Reduzir a relação entre Brasil e Argentina à famosa rivalidade futbolística é uma das grandes demonstrações de desconhecimento da realidade dos “vizinhos” do Brasil. E, como se não bastasse, os brasileiros estão se “mordendo de inveja” pela conquista do Oscar pelos “eternos rivais”.

Eu, como residente desta cidade de contrastes e surpresas, passei pela cerimônia e entrega do prêmio como a maioria dos argentinos: ficamos felizes, muito felizes e ponto. O que é difícil, talvez, de entender para um brasileiro ufanista-festeiro-invejoso…Nosso dia-a-dia é repleto de momentos complicados. São paralizações, manifestações, crise política interna, índices de inflação fictícios, aumento do preço da carne (da carne!!!), aumento de preços em geral, falta de confiança nas instituições políticas e jurídicas, aumento da violência, calor, chuva, inundação e, acima de tudo, bem acima de tudo, o terrível pesadelo argentino de se sentir sempre enganado por sua própria gente.

E por que isso? E daí? Daí que aqui ninguém está preocupado se o Brasil fez isso ou aquilo, se um filme brasileiro foi indicado ou não ao Oscar, se a Argentina vai ganhar a Copa do Mundo ou não. Aliás, ninguém aqui acredita na seleção do Maradona. O que o Argentino vê do Brasil é um país de alegria, de gente bonita, acolhedora, simpática, que sempre cresceu e continua crescendo. Um país de economia sólida, de planos de governo sérios, de políticos comprometidos. Um país de praias maravilhosas, de clima perfeito, de pessoas amáveis, de excelente astral, de grandeza e, por que não, de poder.

O sonho de muitos argentinos é morar no Brasil! A pergunta que mais escuto é: o que você veio fazer aqui??? Você tem algum problema…E posso dizer com muita segurança que eles adoram o Brasil, pois uma das coisas que mais faço aqui é dar aulas de português para argentinos entorpecidos pela beleza e magnitude do Brasil e sua gente. Alguém por acaso conhece outro lugar do mundo onde se possa levar uma vida digna ganhando dinheiro com aulas de português?????

Pra não dizer que não existe nem um pouquinho de rivalidade no futebol, eles fazem alguns comentários sim. Como por exemplo dizer, humildemente, que o Brasil já ganhou 5 Copas e que bem poderia deixar uma para eles. Mas que, infelizmente, eles entendem. O Brasil sempre joga melhor! Eles aceitam tranquilamente esse fato esportivo.

Quem está aí pensando “puxa, a Argentina ganhou o Oscar, tá melhor que nós”, podia dar um pulinho aqui. Aproveitar o câmbio e fazer um pouco de turismo cultural/político (e não passar todo tempo passeando e comprando tudo que encontra pela frente na Calle Florida). Talvez vendo e vivendo um pouco, possa entender que a Argentina, além de ser um país realmente grande (8o. maior país do mundo e 2o. da América Latina – perde para o Brasil) é parte de uma grande comunidade, da comunidade latina, de quem fala espanhol. Que aqui as pessoas se importam com o terremoto e a situação do Chile (e olha que de fato existe rivalidade histórica com o Chile, por ter apoiado a Inglaterra na Guerra das Malvinas!). Quem sabe até se anima a aprender espanhol para conversar de igual para igual com “los hermanos” e, quem sabe, já que “Deus é brasileiro”, pára com esse pensamento mesquinho de competição ridícula e valoriza um pouco mais as relações com os povos que estão tão próximos do nosso país (incluo todos países que fazem fronteira com o Brasil) . Tenho certeza de que a maioria das pessoas, além de levar um susto enorme, ficaria maravilhada em ver que o Brasil é tido como modelo de país em desenvolvimento!

Mas, se preferirem ficar por aí mesmo e continuar com dor de cotovelo, posso ajudar a aumentá-la: aqui não é só o cinema nacional que é valorizado, todas as artes têm espaço. Artes plásticas, literatura, dança, arquitetura, música, teatro…respira-se cultura em cada esquina do Centro (e outras partes da cidade também). E, pra completar, se não é gratuito, é acessível. Disso, o brasileiro deveria morrer de vergonha e não de inveja.

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